16.12.05

E por falar em Queima... um pouco de História - I


A tradição de queimar as fitas remonta à década de 50 do século XIX. Há notícias desta época em que, Segundo Eduardo Proença-Mamede, "grupos de estudantes que, vendo-se passados nos exames do 4º. Ano, se juntavam por faculdade à Porta Férrea e faziam um cortejo até ao Largo da Feira e aí as fitas tinham um fim: eram queimadas numa pequena cova no chão onde ardia um pequeno fogo".
Mais tarde vieram as "festas do ponto" (latadas de fins do século XIX), nos Centenários que entre 1880 e 1898 homenageavam diversas figuras e factos, no Centenário da Sebenta e Enterro do Grau.
O acto de queimar as fitas é anterior à própria festa da Queima das Fitas. As "festas do ponto" serviam para assinalar o final do ano lectivo e a emancipação dos caloiros.
O primeiro acto conhecido das festas ligadas à Queima das Fitas, já com um programa estruturado, é de 1901. Nesse ano, em finais de Maio, os estudantes do IV ano jurídico organizaram um cortejo com cerca de 20 carros motorizados e a cavalo, enfeitados com flores e festões de murta. O cortejo levou cerca de hora e meia a percorrer o trajecto desde o Largo da Universidade até à Baixa. Os caloiros seguiam no cortejo amarrados por fitas vermelhas e com várias latas atadas com fios onde os doutores batiam com as bengalas. As fitas vermelhas representavam a cor do curso jurídico. Alguns anos mais tarde os doutores liam a mensagem de emancipação dos caloiros, entregando-lhes os símbolos que representavam essa emancipação: palmatória, tesoura e moca.
As fitas, tiras de tecido que serviam para atar os livros, a que se chamava o grelo, eram queimadas já de noite. As cinzas eram colocadas numa lata que mais tarde passou a ser colocada à Porta Férrea. Segundo António José Soares, a 10 de Junho de 1903 houve duas queimas das fitas, uma dos quartanistas de direito e outra dos quartanistas de medicina, terminando com uma garraiada na Figueira da Foz, no dia seguinte. Alberto de Sousa Lamy sustenta que só a 26 de Maio de 1929 se realizou, na Figueira da Foz, a primeira garraiada integrada na queima das fitas.
Em 1903 é lançada a primeira brochura de caricaturas, com apenas 10 caricaturas.
Em 1905 surge a segunda brochura já com 136 caricaturas das cinco Faculdades.
A greve académica de 1907 impede a realização da queima das fitas, porque a academia estava dividida em duas facções.
A 27 de Maio de 1913 a polícia decide "controlar a queima" colocando nas ruas muitos dos seus elementos. Um académico faz questão de rapinar um boné ao chefe da brigada. Até 1918, há alguns interregnos, condicionados pelas condições políticas, económicas e sociais da época, como por exemplo a proclamação da República e a 1ª. Grande Guerra Mundial.
Em 1918 os estudantes de medicina e de direito unem-se para queimar o grelo.
Em 1919 o Cortejo dos quartanistas é participado por todas as Faculdades. A 26 de Maio haveria a "tourada dos caloiros e a 27 efectuava-se a queima do grelo e o cortejo. Ainda nessa tarde realizava-se a "festa das latas" e, pela primeira vez, o dia passa a ser feriado académico, cessando todas as praxes. Segundo Alberto de Sousa Lamy, os caloiros passavam a semi-putos, os semi-putos a putos, os putos a quartanistas, os quartanistas a quintanistas e os quintanistas a veteranos. Acontecia portanto a emancipação dos caloiros e a passagem ao posto imediato de todas as outras dignidades. Este foi, de facto, o ano em que as celebrações académicas começaram a adquirir a estrutura que conservam actualmente.
Em 1920 surge o primeiro programa oficial da Queima.
A 27 de Maio de 1925 é lançado aquele que muitos consideram ser o primeiro livro de caricaturas.
A partir de 1926 os grelos passam a queimar-se no "penico", mas há notícia de o mesmo ter sido feiro em 1896. É também em 1926 que a Queima das fitas tem lugar oficial e cartaz desenhado por D. Diogo de Reriz.
Em 1935 surge o primeiro cartaz litografado.
Em 1938 surge um cartaz com várias cores. Ainda neste ano, o grande palco da queima que desde 1930 era no Parque da Cidade, voltou ao Jardim Botânico. A Queima não se realizou em 1921 e em 1962.
A 8 de Maio de 1969 os estudantes grelados, solidários com a greve académica decidem não realizar a Queima das Fitas que só viria a ser retomada 12 anos depois.
Em 1972 alguns quartanistas, em plena rebeldia ao luto académico ainda em vigor chegam a realizar alguns festejos e a editar cartaz e selo, não conseguindo fazer o Cortejo.



Texto de Augusto Alfaiate publicado no site www.regiaocentro.net

<