16.12.05

E por falar em Queima... um pouco de História - II



A Revolução de Abril não terminou com a greve académica. Posições radicais deram origem a confusões, ficando os estudantes privados da sua festa académica e tudo parecia indicar que não se voltaria a realizar. O I Seminário do Fado de Coimbra realizado em 1978, vem dar alguma força aos que queriam reatar o Cortejo, até que, em 1979 a direcção-geral da Associação Académica de Coimbra presidida por Maló de Abreu, consegue organizar pelos seus próprios meios a I Semana Académica de Coimbra que decorreu de 2 a 10 de Junho e constituiu um reforço para os que queriam voltar aos festejos da "Queima", apesar da persistência dos que queriam continuar o luto académico.
Em 1980 os radicais que se opunham ao regresso das festividades académicas, travados também por cisões de índole política, não conseguiram impedir festejos que em muito se assemelhavam à Queima das Fitas, muito embora não tivessem conseguido o apoio dos organismos autónomos da AAC. Mas a cidade adere à iniciativa e as lojas são decoradas com motivos alusivos à festa dos estudantes.
De 23 a 28 de Maio realiza-se novamente, em pleno, a Queima das Fitas com um programa completo e uma assistência ao Cortejo que o "Diário de Coimbra" estimou em mais de 200 mil pessoas, muito embora no dia 28 de Maio um grupo de rapazes procurasse bloquear o cortejo da Queima das Fitas ao fundo da Rua Alexandre Herculano.
O programa tradicional da Queima das Fitas comporta: o Baile de Gala das Faculdades, também chamado "Baile da Queima", introduzido em 1933 e realizado, apenas neste ano, no salão da Câmara Municipal de Coimbra, no "Ninho dos Pequenitos" de 1934 a 1936 e no Ginásio do Liceu José Falcão a partir de 1937; o Chá Dançante; o Cortejo dos Quartanistas; a Garraiada, realizada pela primeira vez em 1929 na Praça de Santa Clara, embora alguns digam que a Garraiada já faria parte das festividades desde finais do século XIX ou princípios do século XX; as Noites do Parque; a "Queima" do Grelo; o Sarau de Gala; a Serenata Monumental; realizada pela primeira vez em 1949 para abrir as festividades da Queima e a Venda da Pasta, surgida pela primeira vez em 1932, lançada pelo curso médico, conhecido por "curso dos cocos", a favor do Asilo da Criança Desvalida que agora se chama Casa da Infância Doutor Elísio de Moura. Faz também parte uma semana cultural e um programa desportivo que envolve as secções desportivas da A.A.C. e seus convidados nacionais e estrangeiros.
A Queima das Fitas constitui, para os Quartanistas Fitados, o ponto de passagem para o derradeiro trajecto da vivência estudantil coimbrã, para os caloiros a emancipação e para os Veteranos o fim da caminhada. Os outros sobem mais um grau hierárquico na PRAXE.
No Código da Praxe editado pelo Conselho de Veteranos, vem o modo como os estudantes da Universidade de Coimbra devem integrar o cortejo da Queima das Fitas, de forma a dignificar a PRAXE ACADÉMICA e a sua Universidade: a) - PASTRANOS - Trajam capa e batina, usando na testa dois pensos e , se possível, devem levar na mão um par de cornos - naturais ou artificiais . símbolos da sua passagem de animal irracional a racional. Caso não possua capa e batina, deve usar o traje do dia-a-dia; b) - NOVOS GRELADOS - Capa e batina, devem levar o grelo da cor da Faculdade a que pertencem, em forma de laço, do lado esquerdo da batina, junto ao bolso superior; c) - NOVOS FITADOS - Capa e batina, devem usar a pasta da praxe com as respectivas fitas da cor da Faculdade a que pertencem, que anteriormente soltaram após a queima do grelo. Os estudantes de Medicina podem, como é da tradição, usar sobre o traje académico a bata branca; d) - CARTOLADOS - As bandas da batina devem ser de cetim da cor da Faculdade a que pertencem; as suas abas devem ser arredondadas dobrando e pregando as duas extremidades inferiores, dando um aspecto de fraque. A cartola deverá ser da cor da Faculdade a que pertencem, ou preta com uma fita à sua volta, da cor da Faculdade. O laço deverá ser de cor preta ou da cor da Faculdade. A bengala será de cor natural ou da cor da Faculdade. A roseta deverá ser da cor da Faculdade ou uma flor natural, usada do lado esquerdo da batina junto ao bolso superior. Todos os estudantes que não estejam incluídos em alguma das categorias anteriores devem participar no Cortejo usando capa e batina. Por maioria de razão, o estreito e correcto uso de capa e batina é aplicável aos BICHOS e ESTRANGEIROS.

Texto de Augusto Alfaiate publicado no site www.regiaocentro.net

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